terça-feira, 29 de novembro de 2011

Aula 3: Apresentação dos trabalhos e discussão dos resultados

Objetivo
Em virtude do caráter dos trabalhos, cada grupo apresentará uma pesquisa singular, por mais que os resultados possam se aproximar. Portanto, é justamente o diálogo entre os trabalhos que movimentará a discussão. Cada grupo apresentará os dados de sua pesquisa comparados ao censo realizado pelo IBGE.

Procedimentos
Cada grupo buscará apresentar seu trabalho (em cartaz ou Power-Point) em cerca de 10 minutos. Para cada grupo “expositor” haverá um grupo “debatedor” que deverá apresentar suas colocações ao final de todas as exposições. Este grupo debatedor ficará responsável por uma avaliação do grupo e por formular até três questões. O professor, enquanto mediador dessa avaliação/debate, deve zelar pelo “ambiente” crítico e evitar que os alunos enveredem pelo caminho fácil das ofensas e desqualificações.
Vale lembrar que esta atividade poderá ser utilizada como instrumento de avaliação. Neste caso, sugere-se que se considerem como componentes da nota as ponderações do grupo debatedor, uma auto-avaliação do próprio grupo “expositor”, além da própria apreciação do professor. Visa-se, assim, valorizar a atuação dos estudantes e amenizar a imagem do professor como aquele que “dá a nota”.
É importante destacar que a proposta original dos trabalhos tem como objetivo último evidenciar as diferenças entre os dados estatísticos e as “realidades” observáveis nas publicidades das revistas. Teremos como possíveis questionamentos: 
  • tipo de revista e seu público alvo; 
  • tipo/preço de produto objeto da publicidade e seu público alvo; 
  • a sub-representação de grupos sociais e de cor em relação à distribuição nacional. 
Em última instância, os percentuais do IBGE também entrarão em conflito com o perfil da sala de aula ou da escola, pois muito dificilmente veremos entre os alunos a distribuição étnica presente no censo, especialmente se estivermos tratando com escolas privadas. Ao atingirmos este ponto de desconforto estaremos iniciando a desconstrução de um discurso há muito arraigado: o da igualdade social e, eventualmente, da democracia racial. É aí, então, que se inicia o desafio de reconstruir dialeticamente a situação de desigualdade entre grupos sociais e de cor, relativizar a própria ideia de democracia como cenário idílico, e questionar as formas de acesso às esferas da sociedade.




Caso haja insegurança quanto ao conceito “democracia racial” e a discussão por ele ensejado, consulte, entre outros:
LEHMANN, David. “Gilberto Freyre: a reavaliação prossegue.Horiz. antropol., jan.-jun. 2008, n. 14(29), p. 369-385.
OLIVEIRA FILHO, Pedro de. “A mobilização do discurso da democracia racial no combate às cotas para afrodescendentes.Estud. psicol. (Campinas), out.-dez. 2009, n. 26(4), p. 429-436.


ADVERTÊNCIA
Se o professor não se sente preparado para lidar com a identificação da desigualdade que, possivelmente, se chocará com o discurso burguês de boa parte das famílias das escolas particulares, ele não deve realizar esta atividade. Avançar na discussão e abortá-la em seu ápice pode ser tão pernicioso quanto nunca iniciá-la, pois há o risco de consolidar noções equivocadas que reforcem o preconceito.

Aula 2: orientação de trabalho (cont.)

Um segundo ponto que julgo importante na aula é a orientação dos trabalhos em andamento. Considerando que na aula seguinte ocorrerá a apresentação dos trabalhos, é importante que haja um momento no início ou final deste encontro para que os alunos tirem dúvidas e o professor se certifique de que todos os trabalhos estão em andamento. Não considero necessário cobrar resultados específicos, mas que os alunos saibam que há este espaço para sanar dúvidas e resolver eventuais conflitos.
Veja que não é uma forma de simplesmente evitar "catástrofes" (como trabalhos não feitos), mas de incentivar o trabalho sob supervisão e acompanhar o desenrolar das atividades.

Aula 2: Texto complementar

Abaixo segue sugestão de texto de apoio ou atividade complementar sobre "cultura", numa abordagem mais antropológica.


“O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.
Graças ao que foi dito acima, podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças lingüísticas, o fato de mais imediata observação empírica.
Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisiologia humana podem refletir diferenças de cultura.Tomemos, por exemplo, o riso. Rir é uma propriedade do homem e dos primatas superiores. O riso se expressa, primariamente, através da contração de determinados músculos da face e da emissão de um determinado tipo de som vocal. O riso exprime quase sempre um estado de alegria. Todos os homens riem, mas fazem de maneira diferente por motivos diversos.
A primeira vez que vimos um índio Kaapor rir foi motivo de susto. A emissão sonora, profundamente alta, assemelhava-se a imaginários gritos de guerra e a expressão facial em nada se assemelhava com aquilo que estávamos acostumados a ver. Tal fato se explica porque cada cultura tem determinado padrão para esse fim. (...) Por isso é que acreditamos que todos os japoneses riem de uma mesma maneira. Temos a certeza que os japoneses também estão convencidos que o riso varia de indivíduo para indivíduo dentro do Japão e que todos os ocidentais riem de modo igual.”

(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 13. Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. P. 70-71)


Questões geradoras:
a.
Segundo o texto, qual é o significado de “Cultura”?
b. A partir da sua experiência pessoal, cite outros exemplos de manifestação cultural.

Aula 2: O negro africano no Brasil

Objetivo
Partindo do conteúdo programático e tendo em vista que os ocupantes originais do território do atual Brasil, bem como a vinda dos africanos para cá já foram abordados no ano anterior quando se discutiu América Pré-Colombiana e Colonização Portuguesa em suas diversas dimensões, o objetivo aqui é enfatizar os séculos XVIII e XIX. Ademais, pretendemos aprofundar o entendimento sobre “cultura” e trabalhá-la em sintonia com a História da África. Assim, será necessário retomar o conceito de escravidão, razão da vinda dos africanos, e explorar a diversidade etno-cultural dos povos africanos que para cá vieram. 
Havendo necessidade pode-se realizar uma atividade a parte sobre o entendimento de “cultura”. É fundamental afastar a ideia de cultura como algo “civilizado” e “europeu” em oposição a hábitos “bárbaros” e “não-europeus”.

Procedimentos
1. Aula expositiva e trabalho com mapas
Roteiro sugerido: Primeiramente mostrar um mapa político atual da Europa e abrir espaço para que os alunos apresentem o que sabem sobre esse continente e sobre os países que o compõem. Naturalmente surgirão peculiaridades e não é recomendável que se limite os comentários. Os alunos certamente conhecem times de futebol, grupos musicais, artistas, além das referências previsíveis a línguas e biótipos. É importante que esses elementos surjam, pois sobre esse tipo de generalidade é que surgem os estereótipos fundamentais aos preconceitos.
Em um segundo momento sugiro trabalhar, segundo os mesmos moldes, com um mapa político atual da África. É de se esperar que este momento gere silêncio e desconforto, pois via de regra a ignorância a respeito do continente africano e seus países é enorme. E, se houver um bom espaço de comunicação para que os alunos se sintam livres para se manifestarem, surgirão os estereótipos e generalizações. Então, em um terceiro momento devem-se estimular os questionamentos a respeito das diferenças entre um exercício e outro.
Mapa político da África (em inglês)
Mapa político da Europa (em inglês)


 Uma outra alternativa bem interessante é usar mapas "em branco" e buscar o conhecimento prévio dos alunos. Com base nisso trabalhar a diferença de conhecimento de um para outro mapa/tema.



ATENÇÃO: Será inevitável abordar o Neo-Colonialismo e o Imperialismo europeu nos séculos XIX e XX para explicar as fronteiras africanas. As fronteiras não contemplam a variedade cultural da África!
Neste caso busque por mapas que mostrem povos e culturas, e não fronteiras políticas:


Para aprofundamento:
Há ainda mapas mais detalhados em HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula. Visita à História Contemporânea. 3a. ed. São Paulo: Selo Negro, 2008.
Por motivos de respeito a direitos autorais, não reproduzo os mapas aqui.
Além disso, recomendo fortemente a leitura desta obra!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aula 1: A sociedade brasileira (cont.)

Além da exibição do documentário e sua discussão em sala, sugiro a proposição de um trabalho em grupo e gerador de novas discussões no futuro.

Orientação para trabalho em casa
Objetivo: Identificar a presença de diferentes grupos étnicos nas publicidades impressas e cruzar as informações coletadas com os dados oficiais do Censo 2010 do IBGE.

Execução: atividade em grupos a ser realizada em casa. Recomenda-se grupos de não mais de 4 alunos.
Proposta: Cada grupo ficaria responsável por um conjunto de revistas devendo formar um padrão (Ex.: Reunir todas as edições de determinado mês de “n” revistas semanais, como Veja, Isto É, Época¸etc.). Dentro deste padrão os alunos devem: 
  1. Classificar a(s) revista(s) de acordo com sua proposta editorial e perfil do público (pesquisa na internet pode auxiliar nesta fase); 
  2. Selecionar todas as publicidades e classificá-las dentro dos critérios produto/serviço, tipo da empresa (pública/privada, nacional/estrangeira), público-alvo, e grupo(s) étnico(s) presente; 
  3. Esses dados devem ser tabulados para gerar porcentagens e poderem ser comparados com o perfil nacional oficial do IBGE.

Perfil da população brasileira por “cor” segundo IBGE
Fonte: IBGE, Censo Demográfico. Dados extraídos de: Tendências demográficas: uma análise dos resultados da amostra do censo demográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2004: pp 25/26, Gráfico 2

Observações:
1. Uma parceria com professores de matemática seria muito positiva, permitindo utilizar a mesma proposta de trabalho para discutir estatística e sua representação gráfica.
2. Os dados do IBGE podem ser fornecidos aos alunos previamente para garantir que a base de comparação seja a mesma, evitando erros de incongruência e impossibilitando comparações. 
3. A apresentação do trabalho é, na verdade, apresentação de resultados de pesquisa conforme modelo científico. Assim, é possível sugerir a confecção de cartazes/pôsteres. No entanto, este tipo de material posteriormente gera lixo e em tempos de busca por meios mais sustentáveis pode gerar certa incoerência com propostas da própria escola na redução de materiais descartáveis. Neste caso, sugiro a apresentação em formato digital do tipo Power Point, posto que cada grupo terá de apresentar seus resultados oralmente para a classe em qualquer um dos casos. Recomenda-se a escolha prévia de grupos que ficarão responsáveis por realizar o contraponto a cada trabalho apresentado, eventualmente sugerindo grupos com revistas de temáticas ou estilos próximos (p. ex.: revistas adolescentes e revistas femininas)


Para maior aprofundamento, veja também:
"Conceitos e definições - pesquisas sociais" - Vocabulário conceitual realizado pelo IBGE. Recomenda-se a  consulta do verbete cor ou raça.
OLIVEIRA, Jane Souto de. “Brasil mostra a tua cara”: imagens da população brasileira nos censos demográficos de 1872 a 2000”. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Ciências Estatísticas, 2003.

Aula 1: A sociedade brasileira - cultura e etnicidade

Objetivo 
Apresentar e discutir a formação social e cultural brasileiras introduzindo as temáticas do multiculturalismo e multietnicidade. Considerando que o objetivo último do projeto consiste em refletir a cerca do preconceito enquanto fruto da alteridade, faz-se necessário partir do entendimento do que somos “nós” e o que são os “outros”, dois pontos extremamente fugidios e variáveis mesmo dentro de uma única sala de aula.

Procedimentos
1. Exibição do Capítulo 10 - "A Invenção do Brasil" - do documentário “O Povo Brasileiro”.

Release oficial:
“O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Esse DVD duplo traz todos os 10 programas da elogiada série baseada na obra central de Darcy, 'O povo brasileiro', em que o autor responde à questão 'Quem são os brasileiros?', investigando a formação do nosso povo. 'O povo brasileiro' é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro e discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro e depoimentos.”
Ficha técnica:
“O Povo Brasileiro” (série completa)
Formato: DVD, duplo
Diretor: Isa Grispum Ferraz (e Darcy Ribeiro, in memorian)
Ano de produção: 2000
País de Produção: Brasil
Gênero: Documentário Duração: 280 minutos

Para quem tiver dificuldade em adquirir o DVD, o documentário está todo no YouTube, basta converter salvar e converter para .wmv ou outro formato compatível com seu player.


2. Com base no vídeo, discussão: “quem faz parte da sociedade brasileira?”
Técnica sugerida: Brainstorming e mind map
As duas técnicas são muito utilizadas no meio corporativo, em particular entre publicitários, mas creio que são plenamente aplicáveis à sala de aula devido ao seu dinamismo e ao caráter criativo.
A primeira delas, o Brainstorming (literalmente “tempestade cerebral”) consiste em um grupo de pessoas expor livremente todas as ideias possíveis associadas a um tema específico. A teoria sugere que os envolvidos, no caso de uma empresa, sejam de setores diferentes para que visões diferentes surjam na discussão formando um cenário muito mais multifacetado.
Após uma “avalanche” de ideias, conceitos, referências e imagens, é necessária a organização deste conjunto em algo inteligível e mais articulado. Neste caso, sugiro o uso da técnica de mind map, cujo nome parece algo muito mais original do que de fato é. O “mapa mental”, em português, poderia ser descrito de forma simplificada como um diagrama de ideias, algo bem comum no meio educacional. Ou seja, a partir do conteúdo levantado com o brainstorming poderíamos elaborar, utilizando-se a lousa, um mapa com ideias-chave ou geradoras, ideias-consequentes e quaisquer outras relações surgidas no primeiro momento.
Este procedimento possui uma dupla vantagem, pois ao organizar o pensamento coletivo também ajuda a sinalizar eventuais pontos de desacordo e necessidades de esclarecimento, permitindo um (re)planejamento de ações futuras.
Vale destacar também que ao utilizar estas técnicas o professor pode colocar-se na posição de mediador das discussões, apenas estimulando as argumentações e coordenando a discussão. É importante salientar que num primeiro momento o “certo” e o “errado” são muito relativos e pouco relevantes, sendo que a interferência do professor “corrigindo” opiniões poderá não só intimidar os alunos como também gerar uma contradição de início. Deve-se ainda tomar cuidado para não deixar a dinâmica cair em silêncios ou, por outro lado, perder o foco. Cabe ao professor manter o andamento da aula, assim como de todas as demais, utilizando perguntas direcionadas que exijam maior detalhamento da reflexão, que conduzam a mais de uma resposta, perguntas duvidosas, polêmicas, enfim, questões que induzem a atividades de raciocínio (FEUERSTEIN, Apud Lucioli, 2003)

Orientações gerais

O corpo do projeto é, de fato, formado pelo cronograma e procedimentos adotados. É aí que se poderá visualizar a proposta mais claramente e compreender onde penso em chegar. Portanto, começarei a postar aqui as aulas (ou momentos) que concebi com todas as informações e detalhamento que disponho até o momento. O trabalho é constante, então poderão ocorrer atualizações.
Tentarei subdividir esse planejamento vários post relacionados para que a leitura não fique muito extensa. Para que não se perca o fim da meada sugiro prestar atenção aos "marcadores" ou "tag" ao fim de cada post. Eles remeterão sempre aos conteúdos relacionados e estão reunidos na coluna à direita do blog.
Cabem ainda algumas palavras sobre a estrutura que adotei. O planejamento exposto a seguir não utiliza o termo “aula” diretamente associado a uma medida de tempo, ou seja, não se trata de um encontro de 45 ou 50 minutos necessariamente. Entendo por “aula” um encontro que encerra uma temática específica e que permite um andamento com começo, meio e fim. Por mais que não aja uma conclusão definitiva é importante que os alunos entendam que houve algum tipo de “amarração” capaz de dar àquele encontro uma unidade em si.
Levando em consideração que a maior parte das escolas oferece 3 aulas semanais de 45 ou 50 minutos para as aulas de História, planejei com base em um esquema ideal 2-1. Isto é, semanalmente teríamos 2 aulas seguidas (chamadas em alguns lugares de “dobradinhas”) e uma aula simples. Desse modo, tentei operacionalizar os procedimentos em dois momentos, o primeiro para 100 minutos e o outro para cerca de 50 minutos. No entanto, isso pode variar muito em cada caso e necessita de reavaliação constante do planejamento. Vale destacar também que em vista da temática aqui trabalhada uma parceria com os professores de Filosofia e Sociologia seria altamente recomendável e colaboraria para um aprofundamento significativo das discussões.