Contexto Sócio-Histórico

Toda proposta de trabalho que tenha como objetivo intervir em determinada prática cotidiana necessita de uma compreensão mínima do cenário. Neste caso, pretendo apresentar em linhas gerais o contexto sócio-histórico da instituição de ensino sobre a qual me debruçarei. No entanto, como não se trata de um estudo vinculado à escola, optei por não mencionar seu nome ou dados que impliquem em sua identificação imediata a fim de evitar eventuais problemas legais ou constrangimentos desnecessários.
O Colégio – como passo a referenciar – localiza-se em bairro tradicional da Zona Sul da cidade de São Paulo. Fundado há mais de 80 anos, a escola confessional iniciou suas atividades voltada para a evangelização da comunidade japonesa e possuiu por muito tempo grande identidade com o entorno. Esta situação vem mudando na última década devido às transformações sociais e urbanas da região.
É importante de início destacar que o bairro possui número significativo de instituições de ensino, sendo a maior parte religiosa. Em uma avaliação estimativa podemos contar ao menos quatro colégios, três universidades e um seminário católicos. No entanto, a identidade do bairro não está ligada ao catolicismo em si, mas a um passado operário já um tanto longínquo e a uma classe média baixa há muito residente na região. Desse modo, o bairro é, em parte, entendido como residência de famílias antigas. Não raras vezes os moradores representam a terceira geração residente ali.
Somado a este contingente “original” e mais homogêneo temos ao menos dois outros grupos sociais cuja chegada mais recente vem alterando o perfil do bairro. Com a maior interligação da região com o restante da cidade graças às obras do Metrô e o crescimento econômico da sociedade como um todo a expansão imobiliária na cidade de São Paulo acabou por promover no bairro uma crescente valorização. Esta mudança, observável nos últimos 10 anos, atraiu uma classe média alta em ascensão. Por sua vez, o mesmo crescimento econômico que fez ascender este grupo social permitiu que famílias que antes não investiam em educação privada passassem a procurar as escolas do bairro.
Gráfico ilustrativo do cenário encontrado
O Colégio atende justamente a este perfil em transformação, apresentando em suas salas de aula uma heterogeneidade nítida, reforçada pela política de concessão de bolsas de estudos para alunos advindos de escolas públicas da região. Vale destacar que a instituição oferece como bolsa de estudos integral cerca de 30% de suas vagas do Ensino Médio a alunos selecionados por critérios socioeconômicos e exame de admissão.
No entanto, apesar de o Colégio e a proposta pedagógica seguida pelo mesmo valorizarem esta diversidade e defenderem ativamente o trabalho social junto às classes mais pobres, há um conflito velado justamente entre os alunos do Ensino Médio. Em outros termos, a proposta pedagógica e as diretrizes da ordem religiosa mantenedora preconizam uma ação pedagógica capaz de promover o desenvolvimento de cidadãos críticos e atuantes dispostos a interferirem nas desigualdades sociais e no individualismo do mundo contemporâneo. Contudo, é fato que esta proposta encontra desafios de dimensões consideráveis e, até o momento, não apresenta pleno sucesso. Se é verdade que, por um lado, o Colégio promove a ascensão social e a inclusão por meio da educação, por outro, não consegue combater características marcantes tanto da cultura brasileira como da mentalidade burguesa tais como manifestações latentes de racismo, preconceito social e variados tipos de hostilidades até certo ponto típicas da adolescência.


Com base no contexto sócio-histórico apresentado acima defini o recorte de um “problema” a ser enfrentado pelo presente projeto. A seguir, detalhamos a problemática em suas diversas dimensões e indicamos qual face será alvo de nossa ação futura.

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